Umbanda para todos

Pesquisar

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

30 de setembro - Dia de Xangô


Talvez estejamos diante do Orixá mais cultuado e respeitado no Brasil. Isso porque foi ele o primeiro Deus Iorubano, por assim dizer, que pisou em terras brasileiras.
Xangô é um Orixá[bb] bastante popular no Brasil e às vezes confundido como um Orixá com especial ascendência sobre os demais, em termos hierárquicos. Essa confusão acontece por dois motivos: em primeiro lugar, Xangô é miticamente um rei, alguém que cuida da administração, do poder e, principalmente, da justiça – representa a autoridade constituída no panteão africano. Ao mesmo tempo, há no norte do Brasil diversos cultos que atendem pelo nome de Xangô. No Nordeste, mais especificamente em Pernambuco e Alagoas, a prática do candomblé recebeu o nome genérico de Xangô, talvez porque naquelas regiões existissem muitos filhos de Xangô entre os negros que vieram trazidos de África. Na mesma linha de uso impróprio, pode-se encontrar a expressão Xangô de Caboclo, que se refere obviamente ao que chamamos de Candomblé de Caboclo.
Xangô é pesado, íntegro, indivisível, irremovível; com tudo isso, é evidente que um certo autoritarismo faça parte da sua figura e das lendas sobre suas determinações e desígnios, coisa que não é questionada pela maior parte de seus filhos, quando inquiridos.

Suas decisões são sempre consideradas sábias, ponderadas, hábeis e corretas. Ele é o Orixá que decide sobre o bem e o mal. Ele é o Orixá do raio e do trovão.

Na África, se uma casa é atingida por um raio, o seu proprietário paga altas multas aos sacerdotes de Xangô, pois se considera que ele incorreu na cólera do Deus. Logo depois os sacerdotes vão revirar os escombros e cavar o solo em busca das pedras-de-raio formadas pelo relâmpago. Pois seu axé está concentrado genericamente nas pedras, mas, principalmente naquelas resultantes da destruição provocada pelos raios, sendo o Meteorito é seu axé máximo.

Xangô tem a fama de agir sempre com neutralidade (a não ser em contendas pessoais suas, presentes nas lendas referentes a seus envolvimentos amorosos e congêneres). Seu raio e eventual castigo são o resultado de um quase processo judicial, onde todos os prós e os contras foram pensados e pesados exaustivamente. Seu Axé, portanto está concentrado nas formações de rochas cristalinas, nos terrenos rochosos à flor da terra, nas pedreiras, nos maciços. Suas pedras são inteiras, duras de se quebrar, fixas e inabaláveis, como o próprio Orixá.

Xangô não contesta o status de Oxalá de patriarca da Umbanda, mas existe algo de comum entre ele e Zeus, o deus principal da rica mitologia grega. O símbolo do Axé de Xangô é uma espécie de machado estilizado com duas lâminas, o Oxé, que indica o poder de Xangô, corta em duas direções opostas. O administrador da justiça nunca poderia olhar apenas para um lado, defender os interesses de um mesmo ponto de vista sempre. Numa disputa, seu poder pode voltar-se contra qualquer um dos contendores, sendo essa a marca de independência e de totalidade de abrangência da justiça por ele aplicada. Segundo Pierre Verger, esse símbolo se aproxima demais do símbolo de Zeus encontrado em Creta. Assim como Zeus, é uma divindade ligada à força e à justiça, detendo poderes sobre os raios e trovões, demonstrando nas lendas a seu respeito, uma intensa atividade amorosa.

Outra informação de Pierre Verger especifica que esse Oxé parece ser a estilização de um personagem carregando o fogo sobre a cabeça; este fogo é, ao mesmo tempo, o duplo machado, e lembra, de certa forma a cerimônia chamada ajerê, na qual os iniciados de Xangô devem carregar na cabeça uma jarra cheia de furos, dentro da qual queima um fogo vivo, demonstrando através dessa prova, que o transe não é simulado.

Xangô portanto, já é adulto o suficiente para não se empolgar pelas paixões e pelos destemperos, mas vital e capaz o suficiente para não servir apenas como consultor.

Outro dado saliente sobre a figura do senhor da justiça é seu mau relacionamento com a morte. Se Nanã é como Orixá a figura que melhor se entende e predomina sobre os espíritos de seres humanos mortos, Eguns, Xangô é que mais os detesta ou os teme. Há quem diga que, quando a morte se aproxima de um filho de Xangô, o Orixá o abandona, retirando-se de sua cabeça e de sua essência, entregando a cabeça de seus filhos a Obaluaiê e Omulu sete meses antes da morte destes, tal o grau de aversão que tem por doenças e coisas mortas.

Deste tipo de afirmação discordam diversos babalorixás[bb] ligados ao seu culto, mas praticamente todos aceitam como preceito que um filho que seja um iniciado com o Orixá na cabeça, não deve entrar em cemitérios nem acompanhar a enterros.

Tudo que se refere a estudos, as demandas judiciais, ao direito, contratos, documentos trancados, pertencem a Xangô.

Xangô teria como seu ponto fraco, a sensualidade devastadora e o prazer, sendo apontado como uma figura vaidosa e de intensa atividade sexual em muitas lendas e cantigas, tendo três esposas: Obá, a mais velha e menos amada; Oxum, que era casada com Oxossi e por quem Xangô se apaixona e faz com que ela abandone Oxossi; e Iansã, que vivia com Ogum e que Xangô raptou.

No aspecto histórico Xangô teria sido o terceiro Aláàfin Oyó, filho de Oranian e Torosi, e teria reinado sobre a cidade de Oyó (Nigéria), posto que conseguiu após destronar o próprio meio-irmão Dada-Ajaká com um golpe militar. Por isso, sempre existe uma aura de seriedade e de autoridade quando alguém se refere a Xangô.

Conta a lenda que ao ser vencido por seus inimigos, refugiou-se na floresta, sempre acompanhado da fiel Iansã, enforcou-se e ela também. Seu corpo desapareceu debaixo da terra num profundo buraco, do qual saiu uma corrente de ferro – a cadeia das gerações humanas. E ele se transformou num Orixá. No seu aspecto divino, é filho de Oxalá[bb], tendo Yemanjá como mãe.

Xangô também gera o poder da política. É monarca por natureza e chamado pelo termo obá, que significa Rei. No dia-a-dia encontramos Xangô nos fóruns, delegacias, ministérios políticos, lideranças sindicais, associações, movimentos políticos, nas campanhas e partidos políticos, enfim, em tudo que gera habilidade no trato das relações humanas ou nos governos, de um modo geral.

Xangô é a ideologia, a decisão, à vontade, a iniciativa. É a rigidez, organização, o trabalho, a discussão pela melhora, o progresso social e cultural, a voz do povo, o levante, à vontade de vencer. Também o sentido de realeza, a atitude imperial, monárquica. É o espírito nobre das pessoas, o chamado “sangue azul”, o poder de liderança. Para Xangô, a justiça está acima de tudo e, sem ela, nenhuma conquista vale a pena; o respeito pelo Rei é mais importante que o medo.

Xangô é um Orixá de fogo, filho de Oxalá com Yemanjá. Diz a lenda que ele foi rei de Oyó. Rei poderoso e orgulhoso e teve que enfrentar rivalidades e até brigar com seus irmãos para manter-se no poder.

  • Sincretismo: São Jerônimo
  • Saudação: Kaô Kabiesilê
  • Dia da semana: Quinta-feira
  • Data Comemorativa: 30 de setembro
  • Cores: Marrom
  • Símbolo: Oxé (machado de lâmina dupla)
  • Comidas: Amalá, quiabo, arroz com carne seca, rabada
  • Bebida: Cerveja preta
  • Domínios: Montanha, raio, trovão, pedreira
  • Elemento: Fogo
  • Incompatibilidades: Morte e Mortos

terça-feira, 27 de setembro de 2011

DIA DE COSME E DAMIÃO


Cosme e Damião foram martirizados na Síria, porém é desconhecida a forma como morreram. Seu culto já estava estabilizado no Mediterrâneo no século V. Perseguidos por Diocleciano, foram trucidados e muitos fiéis transportaram seus corpos para Roma, onde foram sepultados no maior templo dedicado a eles, feito pelo Papa Félix IV (526-30), na Basílica no Fórum de Roma com as iniciais SS - Cosme e Damião.
Alguns relatos atestam que eram originários da Arábia, mas de pais cristãos. Seus nomes verdadeiros eram Acta e Passio. Surgiram várias versões, mas nenhuma comprovada com fundamento histórico. Em uma das fontes, explica-se que eram dois irmãos, bons e caridosos que realizavam milagres. Alguns relatos afirmam que foram amarrados e jogados em um despenhadeiro sob a acusação de feitiçaria e inimigos dos deuses romanos. Em outra versão, na primeira tentativa de morte, foram afogados, mas salvos por anjos. Na segunda, foram queimados, mas o fogo não lhes causou dano algum. Apedrejados na terceira vez, as pedras voltaram para trás, sem atingi-los. Por fim, morreram degolados.
Depois de mortos, apareceram materializados ajudando crianças que sofriam violências. Ao gêmeo Acta é atribuído o milagre da levitação e ao gêmeo Passio a tranqüilidade da aceitação do seu martírio. A partir do século V os milagres de cura atribuídos aos gêmeos fizeram com que passassem a ser considerados médicos, pois, quando em vida, exerciam a medicina na Síria, em Egéia e Ásia Menor, sem receber qualquer pagamento. Por isso, eram chamados de anargiros, ou seja, inimigos do dinheiro. Mais tarde, foram escolhidos patronos dos cirurgiões.
Sempre confiantes em Deus, oravam e obtinham curas fantásticas. Também foram chamados de "santos pobres". Muitos esforços foram feitos para demonstrar que Cosme e Damião não existiram de fato, que eram apenas a versão cristã dos filhos gêmeos pagãos de Zeus. Isto não é verdade, embora haja evidências de que a superstição popular muitas vezes fez supor haver em seu culto uma adaptação do costume pagão.
No Brasil, em 1530, a igreja de Igarassu, em Pernambuco, consagrou Cosme e Damião como padroeiros. No dia 27 de setembro, quando é realizada a festa aos santos gêmeos, as igrejas e os templos das religiões afro-brasileiras são enfeitados com bandeirolas e alegres desenhos.
No candomblé, são associados aos "ibejis", gêmeos amigos das crianças que teriam a capacidade de agilizar qualquer pedido que lhes fosse feito em troca de doces e guloseimas. O nome Cosme significa " o enfeitado" e Damião, "o popular".
Padroados: Farmacêuticos; Faculdades de Medicina; Barbeiros e Cabeleireiros.
Protege: Orfanatos; Creches; Doceiras; Filhos em casa; Contra hérnia e Contra a peste.
Emblema: caixa com ungüentos, frasco de remédios, folha de palmeira.

Oração a São Cosme e São Damião
Amados São Cosme e São Damião,
Em nome do Todo-Poderoso
Eu busco em vós a bênção e o amor.
Com a capacidade de renovar e regenerar,
Com o poder de aniquilar qualquer efeito negativo
De causas decorrentes
Do passado e presente,
Imploro pela perfeita reparação
Do meu corpo e
Dos meus filhos
(...............................................)
nome dos filhos
E de minha família.
Agora e sempre,
Desejando que a luz dos santos gêmeos
Esteja em meu coração!
Vitalize meu lar,
A cada dia,
Trazendo-me paz, saúde e tranqüilidade.
Amados São Cosme e Damião,
Eu prometo que,
Alcançando a graça,
Não os esquecerei jamais!
Assim seja,
Salve São Cosme e Damião,
Amém!
[Ao alcançar a graça, fazer um bolo ou oferecer uma festa às crianças de rua, orfanatos ou creches.]

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O Verdadeiro Espírita


“O espírita é reconhecido pelo esforço que faz para sua transformação moral e para vencer suas tendências para o mal.” – Allan Kardec
O verdadeiro espírita é aquele que aceita os princípios básicos da Doutrina Espírita. Quando se pergunta ao praticante: Você é espírita? Comumente ele responde: “Estou tentando”. Na verdade, a resposta deveria ser sem hesitação: Sou espírita!!! Quanto ao fato de ser perfeito ou qualquer qualificação moral é outro assunto, que não exime o profitente de ser incisivo na sua resposta. Nesse ponto, o praticante não tem que hesitar na sua definição, porquanto Allan Kardec foi claro no seu esclarecimento ao afirmar que se reconhece o espírita pelo seu esforço, pela sua transformação, e não pelas suas virtudes ou pretensas qualidades, raras nos habitantes deste Planeta.
O que acontece com freqüência, seja iniciante ou mesmo com os mais antigos, é que, será mais cômodo não assumir uma postura mais responsável ou permanecer com um pé na canoa e outro na terra. Admite-se até, em determinadas ocasiões que se queira dar uma demonstração de modéstia, mas, que não se justifica sob o ponto de vista de definição pessoal.
A propósito, lembro-me de ter ouvido em uma emissora de rádio da Capital um pronunciamento de um padre católico, ao referir-se aos católicos, que freqüentam os Centros Espíritas para os habituais Passes e a “aguinha fluidificada” e passam a vida sem ter a mínima noção do que representa o Passe e a água. Para esses meio-cá-meio-lá, o mencionado reverendo denominou-se de “catóritas”. Engraçado, não!?
Como chamar os espíritas que se dedicam aos trabalhos nos Centros Espíritas, mas que continuam batizando os filhos, sob o pretexto de que quando maiores escolherão sua própria religião, casam os filhos na Igreja com as pompas e as cerimônias habituais, fazem a Primeira Comunhão com as tradições da Igreja Católica, etc?
Quando os Centros Espíritas se organizarem verdadeiramente, proporcionando aos seus freqüentadores, além do Passe e da Água Fluidificada, a orientação doutrinária, para maior compreensão dos princípios básicos que devem nortear o aprendiz e os trabalhadores na Seara Espírita, certamente, o verdadeiro espírita terá uma nova postura na sociedade, mais convincente, porque passará a distinguir o que é ser espírita, segundo a analogia explicitada por Allan Kardec nas obras básicas organizadas pelo codificador sob a orientação dos Benfeitores Espirituais.
“Solidários, seremos união. Separados uns dos outros seremos pontos de vista. Juntos, alcançaremos a realização de nossos propósitos.” – Bezerra de Menezes

(Publicado no Jornal A Voz do Espírito - Edição 92: Dezembro de 1998) - Jamil Salomão

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Religião e Religiosidade

O Ser humano é, por natureza, um ser religioso que, na ausência de uma religião, tende a sentir-se vazio, desmotivado e fragilizado e, por isso, muitas vezes, se entrega a vícios que o depreciam.

A religiosidade refreia os instintos e desperta nas pessoas a reflexão, pois a induz a pensar nas consequências dos seus atos antes de cometê-los. Com isso, o comportamento tempestuoso e instintivo é refreado e a razão se impõe sobre a emoção.
Religiosidade significa a vivenciação dos princípios Divinos que regem a criação desde que DEUS deu origem a tudo.
A verdadeira religiosidade é o cultivo da fé em DEUS, amor à SUA criação Divina, respeito com as criaturas e um sentimento de fraternidade com seus semelhantes, não importando a raça, a cor ou a religião que seguem.
Religiosidade é a vivenciação equilibrada de todos os momentos de nossa vida.
Religião é a viga mestra de toda uma estrutura destinada a direcionar os seres e congregá-los em torno de uma Divindade acolhedora, amantíssima e irradiadora das qualidades de DEUS PAI, e tem o poder de redimir os seres que se conduzirem segundo sua pregação, porque esse é objetivo do Divino Criador, que dá sustentação a todos, por meio de Suas Divindades "humanizadas"

TEXTO TIRADO DO LIVRO: Doutrina  e Teologia de Umbanda Sagrada - Rubens Saraceni

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O Céu e o Inferno


Allan Kardec apresenta a verdadeira face do desejado Céu, do temido Inferno, como também do chamado Purgatório. Põe fim às penas eternas, demonstrando que tudo no universo evolui. 
Lendo-se este livro com atenção vê-se que a sua estrutura corresponde a um verdadeiro processo de julgamento. Na primeira parte temos a exposição dos fatos que o motivaram e a apreciação judiciosa, sempre serena, dos seus vários aspectos, com a devida acentuação dos casos de infração da lei. Na segunda parte o depoimento das testemunhas. Cada uma delas caracteriza-se por sua posição no contexto processual. E diante dos confrontos necessários o juiz pronuncia a sua sentença definitiva, ao mesmo tempo enérgica e tocada de misericórdia. Estamos ante um tribunal divino.
Os homens e suas instituições são acusados e pagam pelo que devem, mas agravantes e atenuantes são levados em consideração à luz de um critério superior. 
A 30 de Setembro de 1863, como se pode ver em Obras Póstumas, Kardec  recebeu dos Espíritos Superiores este aviso: "Chegou a hora de a Igreja prestar contas do depósito que lhe foi confiado, da maneira como praticou os ensinamentos do Cristo, do uso que fez de sua autoridade, enfim, do estado de incredulidade a que conduziu os espíritos". Esse julgamento começava com a preliminar constituída pelo Evangelho Segundo o Espiritismo e devia continuar com O Céu e o Inferno. Dentro de dois anos, em seu número de Setembro de 1865, a Revista Espírita publicaria em sua seção bibliográfica a notícia do lançamento do quarto livro de Codificação Espírita: O Céu e o Inferno. Faltava apenas A Gênese para completar a obra da Codificação da III Revelação.
Dois capítulos de O Céu e o Inferno foram publicados antecipadamente na Revista: o capítulo intitulado Da apreensão da morte, vigorosa peça de acusação, no número de Janeiro de 1865, e o capítulo Onde é o Céu, no número de Março do mesmo ano. Apareceram ambos como se fossem simples artigos para a Revista, mas o último trazia uma nota final anunciando que ambos pertenciam a uma "nova obra que o Sr. Allan Kardec publicará proximamente". Em Setembro a obra já aparece anunciada como à venda.
Kardec declara que, não podendo elogiá-la nem criticá-la, a Revista se limitava a publicar um resumo do seu prefácio, revelando o seu conteúdo. Os capítulos antecipadamente publicados aparecem, o primeiro com o mesmo título com que saíra e o segundo com o título reduzido para O Céu. 
Estava dado o golpe de misericórdia nos dogmas fundamentais da teologia do cristianismo formalista, tipo inegável de sincretismo religioso com que o Cristianismo verdadeiro, essencial e não formal conseguira penetrar na massa impura do mundo e levedá-la à custa de enormes sacrifícios. Kardec reafirma o caráter científico do Espiritismo. Como ciência de observação a nova doutrina enfrenta o problema das penas e recompensas futuras à luz da História, estabelecendo comparações entre as idealizações do céu e do inferno nas religiões anteriores e nas religiões cristãs, revelando as raízes históricas, antropológicas, sociológicas e psicológicas dessas idealizações na formulação dos dogmas cristãos. 
A comparação do inferno pagão com o inferno cristão é um dos mais eficazes trabalhos de mitologia comparada que se conhece. A mitologia cristã se revela mais grosseira e cruel que a pagã. Bastaria isso para justificar o Renascimento. O mergulho da humanidade no sorvedouro medieval levou a natureza humana a um retrocesso histórico só comparável ao do nazi-fascismo em nosso tempo. Os intelectuais materialistas assustaram-se com o retrocesso do homem nos anos 40 do nosso século e puseram em dúvida a teoria da evolução. Se houvessem lido este livro de Kardec,
saberiam que a evolução não se processa em linha reta; mas em ascensão espiralada.
Vemos assim que este livro de Kardec tem muito para ensinar, não só aos espíritas, mas também aos luminares da inteligência néo-pagã que perdem o seu tempo combatendo o Espiritismo, como gregos e romanos combateram inutilmente o Cristianismo. O processo espírita se desenvolve na linha de sequência do processo cristão. A conversão do mundo ainda não se completou. Cabe ao Espiritismo dar-lhe a última demão, como desenvolvimento natural, histórico e profético do Cristianismo em nosso tempo. 
A leitura e o estudo sistemático deste livro se impõem a espíritas e não-espíritas, a todos os que realmente desejam compreender o sentido da vida humana na Terra. Mesmo entre os espíritas este livro é quase desconhecido. A maioria dos que o conhecem nunca se inteirou do seu verdadeiro significado. Kardec nos dá nas suas páginas o balanço da evolução moral e espiritual da humanidade terrena até os nossos dias. Mas ao mesmo tempo estabelece as coordenadas da evolução futura. As penas e recompensas de após a morte saem do plano obscuro das superstições e do misticismo dogmático para a luz viva da análise racional e da pesquisa
científica. É evidente que essa pesquisa não pode seguir o método das ciências de mensuração, pois o seu objetivo não é material, mas segue rigorosamente as exigências do espírito científico moderno e contemporâneo.
O grave problema da continuidade da vida após a morte despe-se dos aparatos mitológicos para mostrar-se com a nudez da verdade à luz da razão esclarecida. 

(José Herculano Pires, na introdução de O Céu e o Inferno)

domingo, 4 de setembro de 2011

Histórico do Espiritismo


Por volta de 1848, chamou-se a atenção, nos Estados Unidos, para diversos fenômenos estranhos que consistiam em ruídos, batidas e movimento de objetos sem causa conhecida. Esses fenômenos aconteciam com freqüência, espontaneamente, com uma intensidade e persistência singulares; mas notou-se também que ocorriam particularmente sob a influência de certas pessoas, às quais se deu o nome de médiuns, que podiam de certa forma provocá-los à vontade, o que permitiu repetir as experiências. Para isso usaram-se sobretudo mesas; não que este objeto seja mais favorável que um outro, mas somente porque ele é móvel, é mais cômodo, e porque é mais fácil e natural sentar-se em volta de uma mesa que de qualquer outro móvel. Obteve-se dessa forma a rotação da mesa, depois movimentos em todos os sentidos, saltos, reversões, flutuações, golpes dados com violência, etc. O fenômeno foi designado, a princípio, com o nome de mesas girantes ou dança das mesas.
Até então, o fenômeno podia explicar-se perfeitamente por uma corrente elétrica ou magnética, ou pela ação de um fluído desconhecido, e esta foi aliás a primeira opinião formada. Mas não se demorou a reconhecer, nesses fenômenos, efeitos inteligentes; assim, o movimento obedecia à vontade; a mesa ia para a direita ou para a esquerda, em direção a uma pessoa designada, ficava sobre um ou dois pés sob comando; batia no chão o número de vezes pedido, batia regularmente, etc. Ficou então evidente que a causa não era puramente física e, a partir do axioma: Se todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente, concluiu-se que a causa desse fenômeno devia ser uma inteligência.
Qual era a natureza dessa inteligência? Era essa a questão. A primeira idéia foi que podia ser um reflexo da inteligência do médium ou dos assistentes, mas a experiência demonstrou logo a impossibilidade disso, porque se obtiveram coisas completamente fora do pensamento e dos conhecimentos das pessoas presentes, e até em contradição com suas idéias, vontade e desejo; ela só podia, então, pertencer a um ser invisível. O meio de certificar-se era bem simples: bastava iniciar uma conversa com essa entidade, o que foi feito por meio de um número convencional de batidas significando sim ou não, ou designando as letras do alfabeto; obtiveram-se, dessa forma; respostas para as diversas questões que se lhe dirigiam. O fenômeno foi designado pelo nome de mesas falantes. Todos os seres que se comunicaram dessa forma, interrogados sobre sua natureza, declararam ser Espíritos e pertencer ao mundo invisível. Como se tratava de efeitos produzidos em um grande número de localidades, pela intervenção de pessoas diferentes, e observados por homens muito sérios e esclarecidos, não era possível que fossem um jogo de ilusão.
Da América esse fenômeno passou para a França e o resto da Europa onde, por alguns anos, as mesas girantes e falantes estiveram na moda e se tornaram o divertimento dos salões; depois, quando as pessoas se cansaram, deixaram-nas de lado, em busca de outra distração.
O fenômeno não demorou a apresentar-se sob um novo aspecto que o fez sair do domínio da simples curiosidade. Os limites deste resumo não nos permitem segui-lo em todas as suas fases; assim passamos, sem transição, para o que ele oferece de mais característico, para o que atraiu sobremaneira a atenção das pessoas sérias.
Salientemos, antes, que a realidade do fenômeno encontrou numerosos opositores; alguns, sem levar em conta a preocupação desinteressada e a honradez dos experimentadores, só enxergaram uma fraude, uma hábil sutileza. Os que não admitem nada fora da matéria, que só acreditam no mundo visível, que acham que tudo morre com o corpo, os materialistas, em resumo os que se qualificam de espíritos fortes, repeliram a existência dos Espíritos invisíveis para o campo das fábulas absurdas; tacharam de loucos os que levavam a coisa a sério, e os cumularam de sarcasmos e zombarias. Outros; não podendo negar os fatos, e sob o império de certas idéias, atribuíram esses fenômenos à influência exclusiva do diabo e procuraram, assim, assustar os tímidos. Mas hoje o medo do diabo perdeu singularmente seu prestígio; falaram tanto dele, pintaram-no de tantos modos, que as pessoas se familiarizaram com essa idéia e muitos acharam que era preciso aproveitar a ocasião para ver o que ele é realmente.
Resultou que, à parte de um pequeno número de mulheres timoratas, o anúncio da chegada do verdadeiro diabo tinha algo de picante para aqueles que só o tinham visto em quadros ou no teatro; ele foi para muita gente um poderoso estimulante, de modo que os que quiseram levantar, por esse meio, uma barreira às novas idéias, agiram contra seu próprio objetivo e tornaram-se, sem o querer, agentes propagadores tanto mais eficazes quanto mais forte gritavam. Os outros críticos não tiveram sucesso maior porque, aos fatos constatados, com raciocínios categóricos, só puderam opor denegações. Leiam o que eles publicaram e em toda parte encontrarão a prova da ignorância e a falta de observação séria dos fatos; em nenhum lugar, uma demonstração peremptória de sua impossibilidade. Toda a argumentação deles resume-se assim: "Eu não acredito, então não existe; todos os que acreditam são loucos; somente nós temos o privilégio da razão e do bom senso." O número dos adeptos feitos pela crítica séria ou burlesca é incalculável, porque em todas elas só se encontram opiniões pessoais, vazias de provas em contrário. Continuemos com nossa exposição.
As comunicações por batidas eram lentas e incompletas; verificou-se que, adaptando um lápis a um objeto móvel (cesto, prancheta ou um outro, sobre os quais se colocavam os dedos), esse objeto começava a movimentar-se e traçava sinais. Mais tarde verificou-se que esses objetos eram tão-somente acessórios que podiam ser dispensados; a experiência demonstrou que o Espírito, que agia sobre um corpo inerte dirigindo-o à vontade, podia agir da mesma forma sobre o braço ou a mão, conduzindo o lápis. Tivemos então médiuns escritores, ou seja, pessoas que escreviam de modo involuntário, sob o impulso dos Espíritos, de que eram instrumentos e intérpretes. A partir daí, as comunicações não tiveram mais limites, e a troca de pensamentos pode-se fazer com tanta rapidez e desenvolvimento quanto entre os vivos. Era um vasto campo aberto à exploração, a descoberta de um mundo novo: o mundo dos invisíveis, assim como o microscópio tinha desvendado o mundo dos infinitamente pequenos.
Que são esses Espíritos? Que papel desempenham no Universo? Com que propósito se comunicam com os mortais? Tais eram as primeiras questões que se impunham resolver. Soube-se logo, por eles mesmos, que não se trata de seres à parte na criação, mas das próprias almas daqueles que viveram na Terra ou em outros mundos; que essas almas, depois de terem despojado de seu envoltório corporal, povoam e percorrem o espaço. Não houve mais possibilidade de dúvidas quando se reconheceram, entre eles, parentes e amigos, com quem se pôde conversar; quando estes vieram dar prova de sua existência, demonstrar que a morte para eles foi só do corpo, que sua alma ou Espírito continua a viver que estão ali junto de nós, vendo-nos e observando-nos como quando eram vivos, cercando de solicitude aqueles que amaram, e cuja lembrança é para eles uma doce satisfação.
Geralmente fazemos dos Espíritos uma idéia completamente falsa; eles não são, como muitos imaginam, seres abstratos, vagos e indefinidos, nem algo como um clarão ou uma centelha; são, ao contrário, seres muito reais, com sua individualidade e uma forma determinada. Podemos ter uma idéia aproximada pela explicação seguinte:
Há no homem três coisas essenciais: l.o) a Alma ou Espírito, princípio inteligente em que residem o pensamento, a vontade e o senso moral; 2.o) ocorpo, envoltório material, pesado e grosseiro, que coloca o Espírito em relação com o mundo exterior; 3.o) o perispírito, envoltório fluídico, leve, que serve de laço e intermediário entre o Espírito e o corpo. Quando o envoltório exterior está gasto e não pode mais funcionar, ele cai e o Espírito despoja-se dele como o fruto de sua casca, a árvore de sua crosta; em resumo, como se abandona uma roupa velha que não serve mais; é a isso que chamamos morte.
A morte, portanto, não passa da destruição do grosseiro envoltório do Espírito - só o corpo morre, o Espírito não. Durante a vida o Espírito está de certa forma limitado pelos laços da matéria a que está unido e que, muitas vezes, paralisa suas faculdades; a morte do corpo desembaraça-o de seus laços; ele se liberta e recupera sua liberdade, como a borboleta saindo de sua crisálida. Mas ele só abandona o corpo material; conserva o perispírito, que constitui para ele uma espécie de corpo etéreo, vaporoso, imponderável para nós e de forma humana, que parece ser a forma-tipo. Em seu estado normal, o perispírito é invisível, mas o Espírito pode fazer com que sofra certas modificações que o tornam momentaneamente acessíveis à vista e até ao contato, como acontece com o vapor condensado; é assim que eles podem às vezes mostrar-se a nós em aparições. É com a ajuda do perispírito que o Espírito age sobre a matéria inerte e produz os diversos fenômenos de ruído, de movimento, de escrita, etc.
As batidas e movimentos são, para os Espíritos, meios de atestar sua presença e chamar para si a atenção, exatamente como quando uma pessoa bate para avisar que há alguém. Há os que não se limitam a ruídos moderados, mas que chegam a fazer um alarido como de louça quebrando, de portas que se abrem e se fecham, ou de móveis derrubados.
Através de batidas e movimentos combinados eles puderam exprimir seus pensamentos, mas a escrita lhes oferece o meio completo, mais rápido e mais cômodo; é o que eles preferem. Pela mesma razão que podem formar caracteres, podem guiar a mão para traçar desenhos, escrever música, executar uma peça em um instrumento, em resumo, na falta do próprio corpo, que não têm mais, usam o do médium para manifestar-se aos homens de uma maneira sensível.
Os Espíritos podem ainda manifestar-se de várias maneiras, entre outras pela visão e pela audição. Certas pessoas, ditas médiuns auditivos, têm a faculdade de ouvi-los e podem, assim, conversar com eles; outras os vêem - são os médiuns videntes. Os Espíritos que se manifestam à visão apresentam-se geralmente sob forma análoga à que tinham quando vivos, porém vaporosa; outras vezes, essa forma tem toda a aparência de um ser vivo, a ponto de iludir completamente, tanto que algumas vezes foram tomados por criaturas de carne e osso, com as quais se pôde conversar e trocar apertos de mãos, sem se suspeitar que se tratava de Espíritos, a não ser em razão de seu desaparecimento súbito.
A visão permanente e geral dos Espíritos é bem rara, mas as aparições individuais são bastante freqüentes, sobretudo no momento da morte; o Espírito liberto parece ter pressa de rever seus parentes e amigos, como para avisá-los que acaba de deixar a terra e dizer-lhes que continua vivendo.
Que cada um junte suas lembranças, e veremos quantos fatos autênticos desse tipo, de que não nos apercebíamos, aconteceram não só à noite, durante o sono, mas em pleno dia e no estado mais completo de vigília. Outrora víamos esses fatos como sobrenaturais e maravilhosos, e os atribuíamos à magia e à feitiçaria; hoje, os incrédulos os atribuem à imaginação; mas desde que a ciência espírita nos deu a chave, sabemos como se produzem e que não saem da ordem dos fenômenos naturais.
Acreditamos ainda que os Espíritos, só pelo fato de serem Espíritos, devem ser donos da soberana ciência e da soberana sabedoria: é um erro que a experiência não tardou a demonstrar. Entre as comunicações feitas pelos Espíritos, algumas são sublimes de profundidade, eloqüência, sabedoria, moral, e só respiram bondade e benevolência; mas, ao lado dessas, há aquelas muito vulgares, fúteis, triviais, grosseiras até, pelas quais o Espírito revela os mais perversos instintos. Fica então evidente que elas não podem emanar da mesma fonte e que, se há bons Espíritos, há, também, maus. Os Espíritos, não sendo mais que as almas dos homens, naturalmente não podem tornar-se perfeitos ao abandonar seu corpo; até que tenham progredido, conservam as imperfeições da vida corpórea; é por isso que os vemos em todos os graus de bondade e maldade, de saber e ignorância.
Os Espíritos geralmente se comunicam com prazer, constituindo para eles uma satisfação ver que não foram esquecidos; descrevem de boa vontade suas impressões ao deixar a Terra, sua nova situação, a natureza de suas alegrias e sofrimentos no mundo em que se encontram. Uns são muito felizes, outros infelizes, alguns até sofrem horríveis tormentos, segundo a maneira como viveram e o emprego bom ou mau, útil ou inútil que fizeram da vida. Observando-os em todas as fases de sua nova existência, de acordo com a posição que ocuparam na terra, seu tipo de morte, seu caráter e seus hábitos como homens, chegamos a um conhecimento senão completo, pelo menos bastante preciso do mundo invisível, para termos a explicação do nosso estado futuro e pressentir o destino feliz ou infeliz que lá nos espera.
As instruções dadas pelos Espíritos de categoria elevada sobre todos os assuntos que interessam à humanidade, as respostas que eles deram às questões que lhes foram propostas, foram recolhidas e coordenadas com cuidado, constituindo toda uma ciência, toda uma doutrina moral e filosófica, sob o nome de EspiritismoO Espiritismo é, pois, a doutrina fundada na existência, nas manifestações e no ensinamento dos Espíritos. Esta doutrina acha-se exposta de modo completo em O Livro dos Espíritos, quanto à sua parte filosófica; em O Livro dos Médiuns, quanto à parte prática e experimental; e em O Evangelho segundo o Espiritismo, quanto à parte moral. Podemos avaliar, pela análise que faremos abaixo dessas obras, a variedade, a extensão e a importância dos assuntos que a doutrina envolve.
Como vimos, o Espiritismo teve seu ponto de partida no fenômeno vulgar das mesas girantes; mas como esses fatos falam mais aos olhos que à inteligência, despertam mais curiosidade que sentimento, satisfeita a curiosidade, fica-se menos interessado, na medida de nossa falta de compreensão. A situação mudou quando a teoria veio explicar a causa; sobretudo quando se viu que dessas mesas girantes com as quais as pessoas se divertiram algum tempo, saia toda uma doutrina moral que fala à alma, dissipando as angústias da dúvida, satisfazendo a todas as aspirações deixadas no vácuo por um ensinamento incompleto sobre o futuro da humanidade, as pessoas sérias acolheram a nova doutrina como um benefício e, a partir de então, longe de declinar, ela cresceu com incrível rapidez. No espaço de alguns anos conseguiu adesões em todos os países do mundo, sobretudo entre as pessoas esclarecidas, inúmeros partidários que aumentam todos os dias em uma proporção extraordinária, de tal forma que hoje pode-se dizer que o Espiritismo conquistou direito de cidadania. Ele está assentado em bases que desafiam os esforços de seus adversários mais ou menos interessados em combatê-lo e a prova é que os ataques e críticas não retardaram sua marcha um só instante - este é um fato obtido da experiência, cujo motivo os oponentes nunca puderam explicar; os espíritas dizem simplesmente que, se ele se propaga apesar da crítica, é que o acham bom e que se prefere seu modo de raciocinar ao de seus contestadores.
O Espiritismo, entretanto, não é uma descoberta moderna; os fatos e princípios sobre os quais ele repousa perdem-se na noite dos tempos, pois encontramos seus vestígios nas crenças de todos os povos, em todas as religiões, na maior parte dos escritores sagrados e profanos; só que os fatos, não completamente observados, foram muitas vezes interpretados segundo as idéias supersticiosas da ignorância, e não foram deduzidas todas as suas conseqüências.
Com efeito, o Espiritismo está fundado sobre a existência dos Espíritos, mas os Espíritos não sendo mais que as almas dos homens, desde que há homens, há Espíritos; o Espiritismo nem os descobriu, nem os inventou. Se as almas ou Espíritos podem manifestar-se aos vivos, é que isso é natural e, portanto, eles devem tê-lo feito todo o tempo; assim, em qualquer época e qualquer lugar encontramos a prova dessas manifestações abundantes, sobretudo nos relatos bíblicos.
O que é moderno é a explicação lógica dos fatos, o conhecimento mais completo da natureza dos Espíritos, de seu papel e seu modo de ação, a revelação de nosso estado futuro, enfim, sua constituição em corpo de ciência e de doutrina e suas diversas aplicações. Os Antigos conheciam o princípio, os Modernos conhecem os detalhes. Na Antigüidade, o estudo desses fenômenos constituía o privilégio de certas castas que só os revelavam aos iniciados em seus mistérios; na Idade Média, os que se ocupavam ostensivamente com isso eram tidos como feiticeiros e, por isso, queimados; mas hoje não há mistérios para ninguém, não se queima mais ninguém; tudo se passa claramente e todo mundo pode esclarecer-se e praticá-lo, pois há médiuns em toda parte.
A própria doutrina que os espíritos ensinam hoje não tem nada de novo; é encontrada em fragmentos na maior parte dos filósofos da Índia, do Egito e da Grécia, e inteira no ensinamento de Cristo. Então o que vem fazer o Espiritismo? Vem confirmar novos testemunhos, demonstrar, por fatos, verdades desconhecidas ou mal compreendidas, restabelecer em seu verdadeiro sentido as que foram mal interpretadas.
O Espiritismo não ensina nada de novo, é verdade; mas não é nada provar de modo patente, irrecusável, a existência da alma, sua sobrevivência ao corpo, sua individualidade depois da morte, sua imortalidade, as penas e recompensas futuras? Quanta gente acredita nessas coisas, mas acredita com um vago pensamento dissimulado de incerteza, e diz em seu foro íntimo: "E se não fosse assim?" Quantos não foram levados à incredulidade porque lhes apresentaram o futuro sob um aspecto que sua razão não podia admitir? Então, não é nada que o crente vacilante possa dizer: "Agora tenho certeza!", que o cego reveja a luz? Pelos fatos e por sua lógica, o Espiritismo vem dissipar a ansiedade da dúvida e trazer de volta à fé aquele que dela se afastou; revelando-nos a existência do mundo invisível que nos rodeia, e no meio do qual vivemos sem suspeitar, ele nos dá a conhecer, pelo exemplo dos que viveram, as condições de nossa felicidade ou infelicidade futura; ele nos explica a causa de nossos sofrimentos aqui na terra e o meio de amenizá-los. Sua propagação terá por efeito inevitável a destruição das doutrinas materialistas, que não podem resistir à evidência. O homem, convencido da grandeza e da importância de sua existência futura, que é eterna, compara-a com a incerteza da vida terrestre, que é tão curta, e eleva-se, pelo pensamento, acima das mesquinhas considerações humanas; conhecendo a causa e o propósito de suas misérias, ele as suporta com paciência e resignação, porque sabe que elas são um meio de chegar a um estado melhor. O exemplo daqueles que vêm do além-túmulo descrever suas alegrias e dores, provando a realidade da vida futura, prova ao mesmo tempo que a justiça de Deus não deixa nenhum vício sem punição e nenhuma virtude sem recompensa. Acrescentemos, finalmente, que as comunicações com os seres queridos que perdemos acarretam uma doce consolação, provando não só que eles existem, mas que estamos menos separados deles que se estivessem vivos num país estrangeiro.
Em resumo, o Espiritismo suaviza a amargura das tristezas da vida; acalma os desesperos e as agitações da alma, dissipa as incertezas ou os terrores do futuro, elimina o pensamento de abreviar a vida pelo suicídio; da mesma forma torna felizes os que aderem a ele, e está aí o grande segredo de sua rápida propagação.
Do ponto de vista religioso, o Espiritismo tem por base as verdades fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma, a imortalidade, as penas e as recompensas futuras; mas é independente de qualquer culto particular. Seu propósito é provar, aos que negam ou duvidam que a alma existe, que ela sobrevive ao corpo, que ela sofre depois da morte as conseqüências ao bem e do mal que fez durante a vida corpórea; ora, isto é de todas as religiões.
Como crença nos espíritos, também não se afasta de qualquer religião, ou de qualquer povo, porque em todo lugar onde há homens há almas ou espíritos; que as manifestações são de todos os tempos, e o relato delas acha-se em todas as religiões, sem exceção. Pode-se, portanto, ser católico, grego ou romano, protestante, judeu ou muçulmano, e acreditar nas manifestações dos espíritos, e conseqüentemente ser Espírita; a prova é que o Espiritismo tem aderentes em todas as seitas.
Como moral, ele é essencialmente cristão, porque a doutrina que ensina é tão-somente o desenvolvimento e a aplicação da do Cristo, a mais pura de todas, cuja superioridade não é contestada por ninguém, prova evidente de que é a lei de Deus; ora, a moral está a serviço de todo mundo.
O Espiritismo, sendo independente de qualquer forma de culto, não prescrevendo nenhum deles, não se ocupando de dogmas particulares, não é uma religião especial, pois não tem nem seus padres nem seus templos. Aos que indagam se fazem bem em seguir esta ou aquela prática, ele responde: Se sua consciência pede para fazê-lo, faça-o; Deus sempre leva em conta a intenção. Em resumo, ele não se impõe a ninguém; não se destina àqueles que têm fé ou àqueles a quem essa fé basta, mas à numerosa categoria dos inseguros e dos incrédulos; ele não os tira da Igreja, visto que eles se separaram dela moralmente em tudo, ou em parte; ele os faz percorrer os três quartos do caminho para entrar nela; cabe a ela fazer o resto.
O Espiritismo combate, é verdade, certas crenças como a eternidade das penas, o fogo material do inferno, a personalidade do diabo, etc.; mas não é certo que essas crenças, impostas como absolutas, sempre fizeram incrédulos e continuam a fazê-los? Se o Espiritismo, dando desses dogmas e de alguns outros uma interpretação racional, devolve à fé aqueles que dela desertaram não está prestando serviço à religião? Assim, um venerável eclesiástico dizia a esse respeito: "O Espiritismo faz acreditar em alguma coisa; ora, é melhor acreditar em alguma coisa que não acreditar em absolutamente nada."
Os Espíritos não sendo senão almas, não se pode negar os Espíritos sem negar a alma. Sendo admitidas as almas ou Espíritos, a questão reduzida à sua mais simples expressão é esta: As almas dos que morreram podem comunicar-se com os vivos? O Espiritismo prova a afirmativa pelos fatos materiais; que prova se pode dar de que isso não é possível? Se assim é, todas as negações do mundo não impedirão que assim seja, pois não se trata nem de um sistema, nem de uma teoria, mas de uma lei da natureza; ora, contra as leis da natureza, a vontade do homem é impotente; é preciso, querendo ou não, aceitar suas conseqüências, e adequar suas crenças e seus hábitos.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Visão Correta do Espiritismo


É inegável que o Espiritismo, essencialmente, como fato natural, como lei da vida, é de todos os tempos, encontra-se ainda que de modo difuso ou velado no alicerce de todas as crenças imortalistas, razão por que deve ser concebido não como uma seita particular e sim como elemento capaz de fortalecer as diversas religiões e abrir caminho para que elas se encontrem com as várias ciências, levando o homem a cumprir de maneira integral seu destino neste mundo, através do desenvolvimento tanto das potencialidades sentimentais quanto intelectivas. Assim sendo, nada impede que um católico, um teosofista, um amante da umbanda ou do esoterismo seja também espírita, em face do caráter universalista, cósmico, do Espiritismo, e quem quiser defender esta posição certamente descobrirá algumas frases de Allan Kardec para se apoiar. Contudo, somente será espírita em parte, e não de modo completo, pois é igualmente indiscutível que a verdadeira Doutrina Espírita está no ensino que os Espíritos deram (“O Livro dos Espíritos”, introdução, item XVII), e tal ensino é suficientemente claro quando estabelece os fundamentos de uma filosofia racional (idem, Prolegômenos) que incompatibiliza a teoria e prática do Espiritismo com tudo aquilo que tem sabor místico e é destituído de conteúdo lógico. Daí porque ninguém pode ser fiel à causa espírita se deixar de agir com bom senso.
Não basta tirarmos carteirinha no Clube da Pureza Doutrinária para servirmos com proficiência ao Espiritismo. Importa termos a sua visão correta e o bom senso indica que, para isso, o primeiro cuidado é não sermos radicais. Na história de todos os movimentos que hão surgido para alargar os horizontes mentais do ser humano sempre foram as concepções extremistas que estragaram tudo... São elas as fontes geradoras da ortodoxia e toda ortodoxia é fechadura dogmática trancando as janelas da livre análise, sem a qual torna-se impossível o progresso. Acontece que tanto há uma ortodoxia excessivamente conservadora, vocacionada para sustentar o tradicionalismo, quanto há uma ortodoxia exageradamente renovadora, que nada respeita, nem mesmo os valores fundamentais e imprescindíveis à identidade de um pensamento filosófico. A primeira produz por imobilismo a fé cega e a segunda vai tão longe que destrói qualquer fé, ainda que nascida do conhecimento bem construído. Ê lamentável, mas ainda não aprendemos uma grande lição da Antiguidade clássica: virtude está no meio...
Com o devido apreço aos que lutam por fixar o Espiritismo unicamente no plano científico ou exclusivamente na esfera religiosa, e ainda com a justaconsideração àqueles que de sejam conservá-lo em sua feição primitiva ou modernizá-lo por completo, ousamos afirmar que a providência básica para termos uma ótica senão perfeita, pelo menos razoável, do Espiritismo, consiste em abandonarmos a presunção de sabedoria infusa e estudarmos com inteligente humildade obra de Kardec, onde são limpidamente expostos os princípios inquestionáveis de nossa Doutrina e os pontos sobre o quais ela própria recomenda reflexão, pesquisa e debate para amadurecimento das idéias.
O mal é que, ao invés de examinarmos sem premeditação os livros do mestre lionês, recorremos a eles com o deliberado ânimo de catar argumentos esparsos alimentadores de nossas tendências ideológicas, sem admitir que, como as demais pessoas, estamos sujeitos a limitações perceptivas. Ora, como todos nos situamos em graus de evolução diferenciados, cada um vê o Espiritismo de uma forma distinta, resultando daí as insanáveis divergências opiniáticas Se sabemos administrá-las, cultivando-as com equilíbrio e moderação, ainda dá para convivermos em regime de trabalho solidariedade e tolerância, consoante a divisa, ou lema, da Codificação. Se caímos no radicalismo, terminamos sendo nocivos e não úteis ao ideal comum. É o que parece, salvo melhor juízo...


(Reformador nº 2000 – Novembro/1995)

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Sincretismo na Umbanda

Devido à uma série de acontecimentos históricos, à opressão sofrida pelos negros na época da escravidão e à imposição da religião católica dos fazendeiros sobre seus escravos, hoje o sincretismo dos nossos Orixás com os Santos do Catolicismo é muito presente na Umbanda. Muitas vezes este sincretismo e a presença de imagens católicas em nossos terreiros torna-se muito importante para aquele consulente que não conhece muito sobre a Umbanda e vai para um terreiro cheio de medo e desconfiança, mas quando chega lá se sente confortável pois encontra algo que reconhece como sagrado. Sendo assim, seja pela importância para os trabalhos ou pelo fato histórico em si, cabe a nós conhecer e entender o sincretismo na Umbanda. Vamos lá ?

OXALÁ – Jesus Cristo, Nosso Senhor do Bonfim. O grande Pai da Umbanda. Senhor da compaixão, do perdão, da sapiência e da fé. Saudação: Oxalá yê, meu pai! ou Exê Babá! – significa: O Sr. Realiza! Obrigada Pai!


XANGÔ – São Jerônimo, São Pedro, São João. São Jerônimo foi quem traduziu alguns livros da Bíblia do hebraico e do grego para o latim e São João pregava a conversão religiosa e batizou Jesus. Xangô é o deus do trovão e da justiça. Saudação: Caô Cabecilê, meu Pai! – significa: Permita-me vê-lo, Majestade!

                                                                                           

OGUM – São Sebastião (BA), São Jorge (RJ). Orixá do ferro, fogo e tecnologia. Ogum é o orixá guerreiro capaz de abrir caminhos na vida e quebrar nossas demandas. Saudação: Ogum Yê, meu Pai! – significa: Salve o Sr. Da Guerra!

                                                                                            
                                                                                                                     
OXOSSI – São Sebastião (RJ), São Jorge (BA). Orixá da caça e da fartura. Senhor das matas, da verdade e do conhecimento. O grande caçador de almas perdidas, grande curador e grande doutrinador. Saudação: Oke Arô, meu Pai! – significa: Dê seu brado, Majestade!

                                                                                              

OBALUAYÊ – São Lázaro, São Francisco (BA). Senhor da cura, da evolução e da passagem. Saudação: Atotô, meu Pai! – significa: Peço quietude, meu Pai!
OMULU – São Roque, São Lázaro, São Bento. Senhor do fim, Senhor da paralização. Saudação: Atotô, meu Pai! – significa: Peço quietude, meu Pai!

                                                                                  

IBEJI - São Cosme e São Damião. Pureza, leveza, alegria e doçura. Saudação: Salve a Ibejada!

                                                                      

YANSà– Santa Bárbara. Orixá guerreira, deusa dos raios, dos ventos e das tempestades. Liberdade, movimento e paixão pela vida essa grande orixá nos traz. Saudação: Eparrei, Yansã! – significa: Salve o raio, Yansã!

                                                                                                                   
OXUM – Nossa Senhora da Conceição (RJ), Nossa Senhora das Candeias (BA). Orixá do amor puro e verdadeiro, orixá da alegria e da união. Senhora da águas doces e das cachoeiras. Saudação: Ora Yê iê, ô! – significa: Olha por nós, Mãezinha!

                                                                               
IEMANJÁ – Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora dos Navegantes. É a deusa dos grandes rios, mares e oceanos. A grande mãe da Umbanda e dos Orixás. Representa vida e geração em todos os sentidos. Saudação: Odoyá Yemanjá! Adoci-yaba! – significa: Salve a Senhora da Água!